22 de mar. de 2011

Preces no Banheiro

**Texto de Março de 2004
...



...
Veio inesperado, veio sem ser convidada
e foi a morte que veio, mas a quem ela
levou, se ainda me encontro aqui,
medíocre como os bêbados  ????
Ela levou a peça mais importante do clã
e a morte se mostrou,
 Eu vez por outra dizia que iria com ela
e ela não me quis,
mas quis a quem eu tanto gostava
e a quem tanto me era valiosa.

*** {Mãe} ***

Mãe, palavra doce,
palavra simples, palavra rica
 e como uma guerreira essa mãe sempre se portou.
Ela me salvou, me orientou, me amou acima de tudo
e foi ela que a morte levou. Eu perdi parte minha.
De seu ventre nasci e embaixo de sua asa,
como uma ave protegida eu estive todo esse tempo.
Em nosso ápse de vida,
 ela foi arrancada de mim.
 Isso é injustiça ou então é teoria difícil demais pra minha ignorância.
Não era pra ser como foi e nada pode ser feito á respeito do que aconteceu;
 Eu confesso que não entendo...
Por mim, eu sei que ela daria à vida e por ela eu não fui um primor de conduta.
Eu não lhe dava nem atenção.
Quando nos veremos de novo?
 Há uma esperança sincera para isso?
 No céu, ou em Fiji?
... Eu sei que há ...
Chega de me trancar no banheiro.
Fazendo coisa feia ou meditando sobre a vida,
sobre a sua total complexidade;
Chega de me trancar no banheiro
e de me trancar em mim mesmo;
Chega desse enclausuramento;
Eu sou um pássaro, eu quero chegar ao final
do horizonte e não essas cores de monotonia.
...
E eu queria me consolar em teu ombro.
 Certamente a minha mãe gostaria de você,
pois não há criatura vivente
nessa terra que não goste de você.
E ela nem te conheceu...
Mas uma vez e só uma vez,
ela disse que você era bonita.
 Eu fiquei feliz nesse dia.
Fazer o bem a você, me fazia melhor;
  A dor que me come é voráz;
A dor que me come é feróz;
A dor que me come é progressiva;
Essa dor, eu nunca havia sentido
e como os meus sentidos estão inertes,
 estou surpreso, desolado, estou com tendências
suicidas inconscientes outra vez.
...
A minha casa é enorme, mas está vázia...
A alegria que ela ostentava, que se podia ouvir ao longe,
Calou-se em uma madrugada de segunda-feira.
Era pra ser mais um dia leve e novamente outro dia pesado
 foi e me acham o homem mais forte do mundo.
Presenteiam-me o planeta para segurar
 e ainda esperam que eu consiga.
 De que é que pensam que eu sou feito?
Isso aqui que vocês estão vendo é carne e osso;
 Isso aqui que vocês criticam é só um homem;
Isso aqui que vocês acreditam é só uma farsa;
 Isso aqui que vocês renegam é só um descontente.
 A minha casa é enorme, o meu coração também é;
A minha casa é o meu refúgio,
 é onde não podem me fazer mal,
só as lembranças, essas nunca se vão.
A minha casa, Oh casa minha,
É onde posso me esconder e sair apenas,
 quando não há mais jeito,
como por exemplo daqui a pouco.
Mas que música é essa que entra pela minha janela?
...
Oh meu Deus, meu Criador, meu possível salvador,
afinal eu não sei o final, estão me explicando,
mas ainda não me convenceram.
Oh meu Deus diga que o Senhor entende a minha ira;
 Diga que o Senhor compreende o meu amor e o meu desamor;
Diga que o Senhor ouve as minhas preces;
Diga que o Senhor entende a falta da minha mãe;
 Acho que não posso construir nada,
 além de muralhas para que as pessoas
não se acheguem a mim,
O mundo me enoja e a cada instante enoja mais
e  eu não consigo conviver com ratos
 e cobras o tempo todo, aliás tempo nenhum.
Eu odeio injustiça.
Onde está a minha mãe?
Era a sua alegria que hora me alegrava
e hora me enfurecia também, essa eu não tenho
e olho para o lado e ela não mais me dá bronca
e nem em diz para tomar cuidado ao atravessar à rua
 e nem me diz para comer direito,
 não pergunta mais sobre nossos cachorros,
 não conta mais as suas histórias,
 não se emociona assistindo a novela
e nem se distrai assistindo ao noticiário.
 É difícil, mas essas lágrimas
 que estão caindo do meu meu rosto,
 são porque a minha mãe não
está mais aqui e nunca mais ela vai voltar...
Nunca mais.
Toda aquela alegria foi calada;
Toda aquela disposição sucumbiu;
Todo aquele carisma ficou pra trás;
Ela estava caída, seu espírito ali não mais estava,
Eram os seus olhos fechados,
eram suas mãos sem nenhum movimento;
 Era o seu cabelo, já sem brilho;
Era o seu riso alto que não mais se ouvia,
Assim como a sua vóz alta
 e aguda, ali já, não havia nada mais daquilo;
Tudo imóvel, Tudo estranho,
todas as coisas, as mesmas de sempre e elas,
conspiravam para me levar ao desespero.
Era o fim, o primeiro ao menos,
Tudo o que ela viveu, toda a sua luta,
todo o seu sofrer, tudo o que ela construiu,
tudo passou pela minha cabeça
 e foi como que por segundos, que não era mais eu
 e eu só consegui fechar os olhos, questionar a Deus e me conformar...
Posso escrever como um louco,
como um louco eu posso destruir a casa
em sinal de protesto, mas ela não voltará nunca;
             Como um louco que me julgo
e que minhas ações me colocam como tal,
 assim sendo eu posso fazer obras lindas,
eu posso ajudar pessoas, posso doar dinheiro,
mas a minha mãe nunca mais vai voltar.
E ainda este silêncio...
E ainda este silêncio que eu sempre busquei
e que agora me vejo embriagado
 e nem comemorar a minha conquista, eu posso.
 É silêncio de despedida;
É silêncio de luto; Nem o meu choro consegue leva-lo,
 pois choro pra dentro,
pra mim, não quero que sintam pena,
não quero compaixão, não quero apoio, eu quero me manter sozinho.
 Se sozinho sempre eu estive,
 compania seria me contradizer,
seria confusão, mais uma confusão e não precisa.
 Eu digo que não precisa.
- Deus eu agora sei o teu nome e venho tentando achegar-me a ti;
Venho com catástrofes e com sinceridade
buscando equilibra-me, estou buscando a pureza da minha fé.
 Eu ainda sou injusto e egoísta
e irado demais, mas eu tenho dedicação;
Fui sempre eu o demônio, eu sempre fui o Lucifer,
que era o deus das luzes e um traidor
e eu não sou deus de nada e de ninguém eu sou deus
 e eu vivo em algum canto escuro embaixo da minha soberba.
 Eu tenho alma de marciano, minhas antenas
estão alertando-me que é hora da fuga;
Eu não me lembro do meu planeta,
mas quando abri os olhos, eu sei o quanto me assustei com os humanos.
Eu não sou daqui...
Estou agindo como eles, mentindo como eles,
 amando e sofrendo como eles.
Eu sou um mau menino, não gosto de criancinhas,
 não me emociono com o natal,
não tenho aquela redenção no reveillón,
não tenho família, não gosto de gente,
não gosto nem de mim, não gosto do escuro,
 não gosto da solidão...
Não haverá mais preces no banheiro;
Não haverá mais súplicas embaixo d'água;
Não haverão mais orações entorpecidas de cansaço.
É dia-após-dia, sem amanhã, sem depois de amanhã...
Certas perdas fazem você se perder.
...
Qdo alguém que você ama morre, você morre um pouco também.

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