'E eu tenho todo o sofrimento causado voltado contra
mim; Impossível medir lágrima e dor (aquela dor de fim do mundo); Não tenho mais chão, não tenho mais céu... Ter
o meu coração em pedaços, poderia muito bem reconstruir o teu. Mas minha dor
não sara a tua, tu não voltas ao meu amor e convívio e só aumenta a minha dor.’
Era julho e a saudade se tornou maior então.
Cortinas em todos os cômodos da casa;
Era domingo e mais um dia de lembranças e mais
um dia...
Em seu rosto, a barba de meses; Por dentro,
apenas vázio;
Por fora desleixo e um pouco mais de amargura.
Ao que parecia ele ensaiava esse final há
tempos e finalmente estava perto.
Sabe quando você não vê sentido na vida?
Sabe quando você não acredita mais no seres
humanos?
Chega até a odia-los...
Infelismente não era possível voltar a sua
infância onde seus heróis bastavam;
E sua adolescência que era possível ser
rebelde sem responsabilidades;
Ser adulto era um sonho; Ser adulto foi a pior
coisa que poderia ter-lhe acontecido.
...
Em seu coraÇão...a dor maior do mundo; aquela
que doía todos os dias;
Em sua cabeça o pessimismo era como um guia;
Sem porquês, sem a vontade/espera do futuro e
apenas com saudade do passado que realmente passara e agora nada relevante
parecia ter ficado.
E o que disseram é que tudo foi por causa de
um coração partido. Talvez.
...
Maior que o seu oxigênio, só o seu desejo de
sufocar;
A dor era uma moldura/A dor não tinha beleza
alguma/A dor o vencera.
O nosso anti-herói se rendeu.
Era julho e ele havia decidido por um fim em
tudo aquilo. Finalmente teria sua curiosidade satisfeita. O que realmente nos
acontece após a morte?
E essa era a única coisa que o fazia sorrir
nos últimos tempos.
Ensaiou o que dizer se encontrasse Deus pelo caminho
até o céu ou o inferno;
Ficaria frustrado se Deus fosse o da igreja
católica;
Esperava encontrar seus heróis em alguma parte
do que ele nem sabia o que era.
...
Era julho...
Havia enjoado até da sua inseparável insônia;
Ela era como uma espécie de morfina que o
impedia de descansar;
Ela o fazia sentir e estar de olhos abertos
pra sentir a dor de estar vivo.
Passou mais tempos de olhos abertos procurando
motivos do que encontrando respostas e as que achou, fez com que tivesse as
certezas erradas.
[]Solidão...Sempre solidão. Insônia era o par
perfeito pra tal solidão.
Já algum tempo ele vinha tomando remédios para
dormir que lhe davam algumas horas de sono e paz e então...Decidiu juntar esses
remédios e fazer o último descanso, o último voô.
Aquele que haveria de ser o seu último dia,
tinha sido um dia infernal.
Perdeu a hora da faculdade, chegou atrasado no
trabalho e ninguém realmente pareceu se importar. Ficou horas no seu lugar
favorito. Assistiu um filme qualquer, pois só queria o escuro do cinema, o
sabor da pipoca e desligar...
Voltou pra casa, nenhuma ligação na secretária
eletrônica, nenhuma mensagem de celular.
[É...Realmente porque continuar se você não
faz falta mesmo, não é?]
Fez todas as coisas pela última vez.
Tomou seus remédios não pra dormir, mas pra
nunca mais acordar e sorriu e dormiu.
Deixou um último poema no computador que
dizia:
'Cortinas...Sonhos;
Uma igreja, um encontro, o primeiro
beijo de tantos mais e hoje nenhum;
As madrugadas e as manhãs foram
boas;
Tomei chuva por você...
Eu tento não lembrar o que realmente
me é impossível esquecer.'
Segundos...
Espírito olha para o corpo, o corpo não
retribui.
Todo um filme passa e sem edição.
Espíritos também choram.'
É isso o que acontecia quando as pessoas
morriam. Os espíritos saíam dos corpos e ainda ficavam na terra, mas sem poder
interferir e naquele instante lhe bateu um arrependimento mais que insuportável
e ele mesmo tocou o seu rosto e chorou por horas e horas e horas.
[07:12 da manhã] Porta entreaberta.
Barulhos de batida e era o seu amigo, seu
melhor amigo que tinha ido lhe visitar coincidentemente naquela manhã. Viera
lhe pedir desculpa pela briga dos dois a alguns meses atrás e quando entrou
depois de muito chamar e não ter sucesso, viu-o na cama. Parecia dormir.
Profundamente.
Seu amigo o chamou várias, vezes e ao se
aproximar e toca-lo, se desesperou.
Ele estava frio, tal como uma manhã de julho.
Chamou a policia e em pouco tempo todos já se
aglomeravam a sua porta pra saber o que houve...
E só que se ouvia era: ‘Nossa, mas porque ele
fez isso?’
...
Uma semana antes o nosso anti-herói ou vilão
como ele mesmo gostava de se auto-intitular decidiu se despedir da vida.
Resolveu fazer tudo como se não houvesse amanhã. Realmente ele decidira que em
breve não gostaria de ter mais um amanhã.
[...]
Assistiu BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM
LEMBRANÇAS seguidas vezes. Se via como Joel Barish, queria odiar Clementine
Kruczinski, mas só conseguia ama-la.
Entendeu que nada era perfeito e nem precisava
ser;
Aprendeu que amores são parte da vida e que a
vida não é um ato de amor, mas de rebeldia.
Nos deslumbramos com o que nosso mundo de
faz-de-conta pra depois descobrirmos a maldade e passar a ter medo desse mesmo
mundo.
Essa é a roda gigante dos nossos dias.
Mas a sua roda gigante parecia ter emperrado
na parte baixa da vida...
Nada realmente faz sentido;
Porque boas ações? Porque ser mau? Porque
mentir? Porque salvar alguém?
A dor havia lhe roubado os sentidos.
Era como estar em choque.
‘As
entradas... do meu rosto e os meus cabelos brancos
aparecem a cada ano no final do mês de agosto.’
...
Ele viu seus ídolos morrer;
Desejou morrer como eles em uma música suicida
do Morrissey;
Esteve em vários lugares apenas pra sentir o
que sentiu quando esteve com o seu
‘amor,
grande amor e maior amor’ e ele esteve em vários lugares.
O lugar do primeiro beijo, dos beijos de noite
quando a esperava sair do trabalho e ainda era escondiam o namoro, o lugar das
brigas (um quarto) onde tanto foram felizes;
Uma casa de ambos que ela nunca aceitou, que
nunca se viu como dona.
Pensou muito sobre como era possível amar
tanto alguém e por um momento na vida, ter perdido esse amor em meio a
discussões e rotinas e ter estragado tudo.
Porque a gente deixa de amar?
Porque a gente acha que deixou de amar?
Porque as pessoas não nos perdoam?
Porque o Cristo estava de braços abertos e
aquela cidade não significava mais nada?
Realmente era tudo por causa de um coração
partido.
De amor só o que restou foi dor;
Porque as imagens bonitas existem aos montes,
mas uma triste mata pelo menos dez delas;
...
E ele chorou.
...e foi o fim.
De repente o seu espírito se viu em meio de
uma multidão de pessoas em volta da sua casa tentando entender o que aconteceu
e se viu enjoado com a curiosidade humana.
Em momento algum havia se arrependido do que
tinha feito...
Parecia estar vivendo como naquele filme
ghost.
Riu de
algumas coisas, se sentiu mal quando seus amigos descobriram sua morte,
suícidio. Quis conforta-los, mas não podia interferir com o mundo real e
descobriu como era admirado por alguns e ignorado por outros.;
Dia seguinte foi seu velório.
Pouco mais de dez pessoas ali.
Foi então que a décima primeira chegou...
E ali, ele ou o seu espírito desabou. Ela
chegou.
Linda, de cabelos nos ombros, vestido e óculos
pretos. Retirou os óculos e ali em seus olhos todas as lágrimas de inconformismo,
tristeza, dor, saudade, arrependimentos...
Ela chorou por alguns minutos ao lado do seu
corpo. Olhava fixamente seus olhos fechados.
E foi embora sem falar com ninguém.
E mais uma vez ele a viu indo embora e dessa
vez realmente seria para nunca mais voltar.
Pois não havia mais para o que ou para quem
voltar.
Esse foi o fim.
...
Seu espírito (ELE) foi ver o mar e depois de
horas lembrando e sentindo viu que não se arrependia.
Viu que a vida realmente o estava matando, ele
só finalizou o trabalho;
Os suicidas não herdarão o reino dos céus; Foda-se o reino dos céus.
Mesmo após a morte não viu deus;
Não viu o diabo;
Não encontrou anjos ou demônios;
Não foi para o purgatório ou ouviu dizer de
armagedon.
Era uma alma como sempre fôra, perambulando
por ali, por aqui, por toda a parte.
A diferença é que não lhe viam.
Se afastou definitivamente dos que conheceu em vida;
Pois havia morrido pra ter paz e estancar a
dor.
...
Finalmente encontrou a paz.
E sobre o amor?
Morreu em seu coração junto com a morte do seu coração.
E sobre quem amou?
Ela foi feliz e de alguma maneira o fez também feliz.
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